quinta-feira, 25 de junho de 2020

QUANDO A CORRUPÇÃO PASSOU A SER ACEITÁVEL?


Será que em algum momento entre 2015 e 2020 houve uma redefinição de conceitos morais e, com isso, algumas corrupções passaram a ser aceitáveis? Eu acho que sim, pois eu vejo muita gente que foi às ruas em 2013 e 2014 vestindo verde e amarelo e gritando contra a corrupção aparentemente não se importar com as notícias que ligam o atual presidente e seus apoiadores com uma série de fatos flagrantemente ilegais.


Após a prisão do ex-policial Fabrício Queiroz, vimos todos os veículos de comunicação, inclusive alguns alinhados com o presidente Bolsonaro, listando uma série de ilegalidades cometidas por Queiroz na época que ele e outros membros da sua família eram “contratados” pelo gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.


Fonte: flickr.com
Acontece que mesmo com todos os indícios, e algumas provas, do envolvimento da família do

presidente nessas ações ilegais, pesquisas mostram que o número de apoiadores do governo (pessoas que acham que Jair Bolsonaro faz um trabalho ‘bom’ ou ‘ótimo’ na cadeira presidencial) não teve uma queda significativa, se mantendo próximo dos 40%.


Isso me leva a duas possíveis explicações. A primeira é que após a queda da ex-presidente Dilma Rousseff e o fim do governo Michel Temer, houve a criação de um novo código de conduta moral que instituiu uma espécie tabela de corrupção na administração pública e com isso, crimes como a “rachadinha”, envolvimento com a milícia e atentados contra as instituições democráticas, são mais aceitáveis que a corrupção na Petrobrás e o recebimento de propina de empreiteiras.


Já a segunda hipótese é que estamos vendo o surgimento de um novo fenômeno cultural que podemos chamar de terraplanismo moral. Um movimento que, assim como o seu coirmão, exige de quem insiste em acreditar nas falácias propagadas por apoiadores um enorme malabarismo retórico para contemporizar suas teorias da conspiração.  


O problema é que, diferente do movimento original, que na sua essência não faz mal a ninguém, o terraplanismo moral já resulta em milhares de mortes pelo Coronavírus, milhões de pessoas sem emprego, e numa brutal perda da credibilidade internacional do Brasil.


É justo o argumento de quem pede punição para os envolvidos nos crimes cometidos pelos governos anteriores – eu também concordo –, mas a sua busca por justiça não pode se restringir a quem tem um posicionamento político diferente do seu, pois essa indignação seletiva pode, como já vimos muitas vezes, acabar se voltando contra você.

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quarta-feira, 24 de junho de 2020

O CULTO A IGNORÂNCIA E O ERRO DE LER COMENTÁRIOS


Num passado não muito distante talvez fosse difícil para qualquer pessoa razoável imaginar que alguém teria a coragem de usar a burrice para justificar uma opinião ou posicionamento político sobre um tema, só que agora isso se tornou algo comum.


Na disputa ideológica entre esquerda e direita, egos e narrativas, a coisa mais autodestrutiva que alguém pode fazer nas redes sociais é parar e ler os comentários. Eu recentemente fiz isso e posso afirmar que não é fácil ver como a ignorância virou motivo de orgulho para um certo grupo de pessoas.


Fonte: Ilustração Pinterest
Por causa do seu projeto de combate à fake news, eu fui buscar na página da deputada paulista Tabata Amaral, algumas informações sobre o PL da “ Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet", criado por ela em conjunto com o deputado Felipe Rigoni e o senador Alessandro Vieira.


Não quero aqui abordar o projeto em si, mas quero falar sobre como, mesmo sem saber do que estão falando, pessoas fazem questão de ir às redes sociais para “opinar” sobre algo que elas mesmas admitem não saber. Ou seja, ao dar uma opinião, a própria pessoa descredibiliza a sua fala.  


Das dezenas de comentários que acabei lendo em uma publicação sobre o projeto feita pela deputada Tabada, chamou minha atenção um sujeito que, nas palavras dele: “não tinha lido o projeto e mesmo assim não concordava”.


Xingamentos à parte (e li muitos nesse post), como no exemplo acima, se destacava no meio dos comentários aquilo que o economista e vencedor do prêmio Nobel Paul Krugman classificou de “praga da ignorância deliberada”, ou seja, pessoas que visivelmente estavam ali não para buscar o entendimento do assunto debatido, mas para fazer com que as pessoas que queriam isso fossem desestimuladas a fazê-lo.


Teorias da conspiração à parte, esses grupos parecem ter se organizado, como pessoas físicas (diferentes dos bots que são comuns no ambiente virtual), para propagar uma ação orquestrada de fomento ao “anti-intelectualismo”, ao “achismo” e ao descrédito à ciência e a educação.


Como eu já disse, num passado não muito distante, talvez fosse difícil para qualquer pessoa razoável imaginar que alguém teria a coragem de usar a sua burrice para justificar uma opinião ou posicionamento político sobre algo. Agora, a realidade já não é mais essa.


A internet veio para colocar um holofote sobre esse problema e cabe a todos nós lutarmos para não deixar esse pequeno grupo tomar para si o protagonismo dos assuntos relevantes para nossa sociedade, pois, tanto quanto o futuro do país, a nossa sanidade também depende disso.


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terça-feira, 16 de junho de 2020

O VÍRUS NÃO VAI DEIXAR DE TE MATAR SÓ PORQUE VOCÊ NÃO ACREDITA NELE


Passamos de 44 mil mortos pelo Coronavírusno no Brasil, número suficiente para encher um estádio de futebol. Para nível de comparação, o recorde de público registrado na arena Corinthians, casa da segunda maior torcida do país, é de 46.903 mil pessoas. Mas perece que mesmo com o número de corpos capaz de abarrotar  um estádio de futebol, muita gente decidiu que basta deixar de acreditara que, como mágica, o vírus deixa de existir.


Se você não mora no interior do interior do Brasil ou no meio da floresta amazônica, justificar o relaxamento do isolamento social com a falta de informação é uma afronta a todos os brasileiros que mesmo diante de dificuldades continuam seguindo as regras de distanciamento.


Reabertura de Shopping em Blumenau, SC  (imagem internet)
Ignorar os riscos que a COVID-19 traz para você e para os outros, é um ato egoísta e também
criminoso, segundo o Código Penal Brasileiro. Mesmo assim, aparentemente muita gente decidiu que um vírus que já matou em quatro meses mais do que todos os acidentes de trânsito ocorridos em 2019, pode ser eliminado só pela força de vontade.


Diariamente vejo fotos e vídeos nas redes sociais de pessoas circulando pelas ruas, praticando atividades físicas em grupo ou aglomerando-se em festas e pontos comerciais – lógico que não me refiro aqui aos grandes “influencers” que estão constantemente em evidência e naturalmente passam pelo escrutínio e quase sempre anuência da sua audiência.


O vírus não vai deixar de matar só porque alguém não acredita nele. O treino “clandestino” na academia ou a festa numa chácara isolada, não vai poupar ninguém da morte só porque a aglomeração está “escondidinha” da fiscalização. A história dessa doença vai cobrar seu custo e hoje o preço é a vida de quem, mesmo podendo ficar em casa, opta por sair às ruas. Você está disposto a pagar para ver?



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domingo, 14 de junho de 2020

ARTISTAS, OBRAS E ATIVISTAS QUE ME FIZERAM SER ANTIRRACISTA


Nas últimas semanas, vimos o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) ganhar muita força aqui no Brasil devido a repercussão do assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, e das mortes dos garotos João Pedro (14) e Miguel Otávio (5), aqui no país. Com isso, os temas racismo e violência policial, “felizmente” voltaram a ser discutidos nas redes sociais e também na grande mídia.

Vendo isso, resolvi dar minha contribuição para essa discussão como uma pessoa interessada no assunto e, especialmente, como homem branco que, ao longo dos anos, entendeu que nesse debate o protagonismo deve ser dado às vozes e personalidades negras, do Brasil e do exterior, que convivem diariamente com os males que o racismo explícito e o racismo estrutural trazem à sociedade.

Martin Luther King Jr e Malcolm X
Sendo assim, decidi não compartilhar a minha opinião sobre tema, mas sim uma lista dos artistas, obras e ativistas que me ensinaram que o combate ao racismo passa necessariamente pela adoção de atitudes antirracistas.  

Porém, antes de continuar, preciso esclarecer que esta é uma lista pessoal que não leva em conta a qualidade artística das obras (pois acho isso muito subjetivo e depende do referencial teórico de cada um), mas sim a mensagem que elas passam a ponto de elas abrirem meus olhos para algumas mazelas sociais que nos rodeiam.  

Além disso, não vou colocar links para trailers dos filmes, músicas ou livros, pois isso é facilmente encontrado na internet. Ao invés disso, vou colocar alguns links de matérias jornalísticas que vão ajudar você, amigo leitor, a contextualizar melhor cada fato citado nas obras.

Espero que vocês gostem dos artistas, obras e ativistas aqui listados e que isso, de alguma forma, ajude no debate sobre como o racismo acaba afetando negativamente a vida de todos nós, independente raça, cor da pele, inclinação política e religiosa.

Diretores


Spike Lee
Ava DuVernay
Jordan Peele
Alan Parker
Frank Darabont
Steve McQueen
Ryan Coogler
Lee Daniels
José Padilha
Fernando Meirelles 

Filmes


Selma
Tempo de Matar
O Mordomo da Casa Branca
Faça a Coisa Certa
Infiltrado na Klan
Histórias Cruzadas
Duelo de Titãs

Livros 


Origens do Totalitarismo - Hannah Arendt
Mulheres, raça e classe - Angela Davis 
O ódio que você semeia - Angie Thomas
Americanah - Chimamanda Ngozi Adiche
A Autobiografia de Martin Luther King - Clayborne Carson
A Elite do Atraso - Jessé de Souza
Malcolm X – Uma Vida de Reinvenções - Manning Marable
Racismo Estrutural - Silvio de Almeida
Racismo Recreativo - Adilson Moreira
E se Obama fosse africano? - Mia Couto
A resposta - Kathryn Stockett
Pequeno manual antirracista - Djamila Ribeiro

Atores e atrizes


Eddie Murphy
Whoopi Goldberg
Denzel Washington
Viola Davis
Lázaro Ramos
Octavia Spencer
Morgan Freeman
Forest Whitaker
Samuel L. Jackson
Will Smith

Músicos 


Emicida
Racionais MC’s
Chico Science
Elza Soares
Criolo
Tássia Reis
Rincon Sapiência
Alcione
Rashid
Sandra de Sá


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sexta-feira, 12 de junho de 2020

JORNALISTA PODE FAZER QUALQUER PERGUNTA

Nos últimos dias, notícias envolvendo jornalistas me chamaram atenção de forma negativa especialmente porque, nesse momento, a imprensa não deveria ser notícia. Mas vamos lá e entender o que houve e o porquê de isso ser grave.

A primeira notícia a ligar o sinal de alerta foi o afastamento de um jornalista do grupo EBC (Empresa Brasil de Comunicação), após ele ter perguntado, num grupo de whatsapp, a um assessor do Ministério da Saúde, sobre os critérios para a “ocupação de cargos comissionados” na pasta?
William Bonner e Renata Vasconcellos na bancada do JN (foto: Globoplay)

Uma pergunta que eu acredito que todos achamos pertinente, mas que ficou sem resposta e ainda resultou no afastamento do jornalista da cobertura sobre COVID-19, vírus que já matou mais de 40 mil brasileiros.

A segunda notícia foi a invasão da Rede Globo por um homem que fez de refém uma repórter e exigiu falar com a jornalista e apresentadora do Jornal Nacional Renata Vasconcellos como condição para se render à polícia. Felizmente o ato não acabou em tragédia.

O terceiro fato que chamou minha atenção foi a fala do Procurador-Geral da República Augusto Aras que, durante o julgamento da ação sobre Fake News, colocou veículos de Comunicação profissionais no mesmo patamar de bots, blogs e perfis de redes sociais que disseminam notícias falsas.

Esses três fatos chamam a atenção porque são ataques diretos à imprensa profissional. O que nesse cenário de polarização leva, como vimos no caso da Globo e da EBC, a atentados contra jornalistas e o trabalho jornalístico.


Como diz o artigo 2020 da Constituição, jornalista pode fazer qualquer pergunta, se alguém não concordar pode não responder, mas não impedir que a pergunta ou a matéria seja feita. Por isso devemos ter cuidado, pois como disse o jornalista Reinaldo Azevedo, hoje, “quem toma jornalista por bandido pode terminar tomando bandido por jornalista”.

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O TEMPO DA CIÊNCIA NÃO É O TEMPO DA CRISE

terça-feira, 9 de junho de 2020

O TEMPO DA CIÊNCIA NÃO É O TEMPO DA CRISE


A fala de ontem da infectologista Maria Van Kerkhove, chefe do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), acabou gerando uma repercussão negativa nas redes sociais por supostamente contradizer aquilo que a entidade vinha alertando desde o início da pandemia do novo Coronavírus. 

Acontece que o problema em si não está na fala de Maria, que durante entrevista no último dia 8 de junho disse que a transmissão do vírus por pessoas assintomáticas seria "rara". O que deu início a uma avalanche de críticas e levou a entidade a se explicar um dia depois.

Infectologista Maria Van Kerkhove –  Foto: Reprodução/OMS
O problema é que, de maneira geral, o grande público não está habituado a acompanhar o noticiário
científico, algo que se tornou literalmente questão de vida ou morte neste momento, e por isso espera das publicações especializadas e entidades acadêmicas a mesma precisão que está acostumado a ver nas publicações de outras editorias.

O fato é que a ciência não segue o tempo da crise e por isso, usualmente apresenta análises e estudos que podem ser contraditórios ente si, o que também faz parte do jogo. Por isso, quem agora acompanha o noticiário cientifico deve saber que para ser corroborada ou refutada uma tese, um medicamento ou uma vacina, por exemplo, passa por um longo processo de análise.

São feitos estudos, artigos são publicados, a comunidade científica debate a eficácia ou a ineficiência da metodologia utilizada e, por fim, a questão é refutada ou corroborada. O que acontece hoje com a Cloroquina é um bom exemplo disso.

Eu sei que agora todos temos pressa, mas o problema não é a fala da infectologista, mas a incapacidade da impressa de explicar para o público como funcionam as etapas de um processo científico e que o tempo da ciência não é o mesmo tempo da crise.  

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